Grupo que matou sem-teto era formado por 3 homens com fuzil e pistolas
17/10/2025
(Foto: Reprodução) Homem em situação de rua sobreviveu a ataque, mas está grave
Três atiradores usaram um fuzil e duas pistolas de calibres diferentes em um ataque nas imediações do metrô de Irajá, na Zona Norte do Rio, na madrugada desta sexta-feira (17). Dois homens em situação de rua morreram no local, e um terceiro, de 38 anos, que tentou fugir, foi baleado e levado para o hospital em estado grave.
A Delegacia de Homicídios da Capital investiga o caso e tenta identificar os criminosos. Durante a perícia, os agentes encontraram marcas de tiros em uma casa próxima — um dos disparos atravessou a janela e atingiu uma televisão, mas ninguém ficou ferido.
O ataque ocorreu por volta das 4h. Inicialmente, acreditava-se que os assassinos tinham atirado de dentro de um carro. Agora, já se sabe que os criminosos pararam o veículo perto de um retorno da Avenida Pastor Martin Luther King Júnior, desceram do carro, caminharam até onde os homens dormiam e abriram fogo com fuzis.
Os disparos não foram concentrados em um único ponto — os corpos ficaram em extremidades opostas do viaduto.
Ainda não há informações sobre o que teria motivado o ataque.
Quem eram as vítimas
Seu Etevaldo, conhecido como Bahia (E), um dos mortos em Irajá
Batikum Afro/Divulgação
O homem baleado tem uma anotação criminal por associação ao tráfico. Os mortos não tinham sido identificados até a última atualização desta reportagem, mas na região eram conhecidos como Bahia e Milharina.
“São 2 coroas que já moram debaixo do metrô há muito tempo. Um andava com bengala, mal conseguia andar. O outro vendia verdura. O terceiro é o Pará. Todo mundo da redondeza conhecia eles”, contou Érico Cerqueira, morador da região.
A técnica de enfermagem Camila de Jesus Gomes, que passa diariamente pelo local, lamentou o crime: “Eles não mexiam com ninguém. Davam bom dia, boa tarde. Eram tranquilos. O que leva um ser humano a fazer isso? Muito triste, lamentável.”
Vítima era percussionista
Homens são assassinados embaixo do metrô de Irajá
Reprodução/TV Globo
Antes de viver em situação de rua, Bahia, também chamado de Etevaldo, era percussionista em Salvador. No Rio, onde vivia há muitos anos, encontrou abrigo sob o viaduto da estação de metrô de Irajá. Mesmo com limitações de mobilidade causadas por AVCs, mantinha uma rotina marcada pela música e pela convivência com a comunidade.
Ele participava das atividades do Batikum Afro, projeto social que promove oficinas de música afro-brasileira em comunidades da Zona Norte. “Ele cantava, participava e estava sempre com a gente. Tocávamos percussão, e ele lembrava muito de Salvador. Um dia, em 2023, apareceu do nada e começou a cantar junto. Criamos uma relação. Todo ensaio ele aparecia”, conta Luccas Xaxará, diretor do projeto.
“Ele era o mais vulnerável ali. Aquele trecho nunca teve muitos moradores, só uns 6, mais ou menos. A comunidade conhecia. Tinha um barbeiro que cortava o cabelo dele, o pessoal dava alimentação. A gente oferecia café da manhã e interagia durante os ensaios”, relembra Luccas.
Mesmo após perder parte dos movimentos, Bahia continuava a cantar. “Chegava, começava a cantar e animava todo mundo”, diz Luccas.
Agora, o grupo busca formas de preservar sua memória. “Queremos garantir que ele não seja esquecido. Ele não tinha documentos, mas tinha história. Estamos atrás da família dele para que ele tenha um sepultamento digno”, afirma Luccas.
Mapa mostra onde foi o ataque a tiros a sem-teto
Infografia: Veronica Medeiros/g1
Cápsula de tiro disparado embaixo de viaduto em Irajá, no Rio
Reprodução/ TV Globo