TERMÔMETRO DA COP30 #DIA 8: a semana decisiva em Belém, a ausência que chamou atenção e as decisões de capa

  • 17/11/2025
Olá, aqui quem escreve é Roberto Peixoto, repórter de Meio Ambiente no g1. Este é o Termômetro da COP30, edição #DIA 8, um boletim com o essencial que você precisa saber sobre a 30ª Conferência do Clima da ONU. Eu vou explicar para você, em 7 tópicos, como foi o final de semana em Belém. Entre os destaques, eu conto que a Alemanha finalmente sinalizou que deve anunciar sua contribuição ao Fundo Florestas Tropicais para Sempre, enquanto o plano de US$ 1,3 trilhão segue enfrentando resistência de países-chave. Vou falar também por que a discussão sobre minerais virou assunto central da COP pela primeira vez. E ainda explico o que está por trás da disputa sobre as decisões de capa e por que isso importa para o desfecho desta conferência. 1 - Em alta X em baixa EM ALTA: 💰 A Alemanha deu um sinal importante em Belém. O ministro do Meio Ambiente, Carsten Schneider, disse que “nos próximos dias” deve anunciar quanto o país vai colocar no Fundo Florestas Tropicais para Sempre, o TFFF, iniciativa lançada pelo Brasil para pagar quem conserva suas florestas. “Tenho mantido conversas sobre isso em Berlim nos últimos dias e espero que, muito em breve, possamos dizer exatamente quanto dinheiro estará envolvido”, afirmou Schneider. “Mas podem ter certeza de que, se a Alemanha fizer isso, será feito da maneira correta.” EM BAIXA: 🗺️ O plano de mobilizar US$ 1,3 trilhão por ano em financiamento climático, uma das apostas políticas do Brasil para esta COP30, encontrou resistência. Japão, China e Quênia questionaram a legitimidade do debate e evitaram apoiar o documento preparado pelas presidências da COP29 e COP30. Um resumo técnico divulgado no fim de semana (entenda mais no item 4), que deveria ajudar a montar um pacote de decisões, também não incorporou os mapas do caminho defendidos por Lula, deixando o roteiro brasileiro com menos força justamente no momento em que o tema entra no centro das negociações. 2 - Brisa de esperança: minerais entram no palco principal da COP30 Uma novidade importante apareceu na última sexta-feira (14) em Belém. Pela primeira vez, os países reunidos numa cúpula do tipo da ONU começaram a discutir abertamente de onde vêm os minerais que fazem a energia limpa acontecer. Ou seja, tudo aquilo que vira bateria, painel solar, motor de carro elétrico e turbina eólica. Até agora, esse assunto tinha ficado sempre na borda das COPs, mesmo sendo decisivo para qualquer promessa de transição energética. No fim do dia, um rascunho divulgado admitiu que a corrida por lítio, cobre e níquel cria oportunidades, mas também pressiona comunidades que vivem perto das áreas de mineração. E trouxe um ponto novo: o texto reconhece os direitos dos povos indígenas, inclusive grupos em isolamento voluntário, que podem ser diretamente afetados pela expansão desses projetos. Oferta de energia cresce mais que consumo, e Brasil 'joga fora' excesso; entenda O clima nas salas de negociação é de que esse assunto precisava aparecer. Países como Brasil e várias nações africanas vêm repetindo que a transição energética só será justa se os territórios que fornecem esses recursos não ficarem com o ônus e perderem o bônus. Por isso, a entrada do tema no texto, mesmo ainda entre colchetes, coloca essa discussão na rota das decisões políticas. Nada está fechado e o documento continua em disputa, mas o fato de o tema ter entrado de vez na mesa é um passo para encarar não só o futuro da energia limpa, mas todo esse caminho que ela percorre até chegar lá. 3 - Traduz aí, g1 Obras no Parque da Cidade da COP30 PABLO PORCIUNCULA/AFP O QUE SÃO AS DECISÕES DE CAPA? As decisões de capa são documentos políticos escritos pela presidência da COP para “amarrar” o resultado final de uma conferência do clima. Elas funcionam como um texto guarda-chuva: não pertencem a nenhum item específico da agenda, mas sintetizam a mensagem política da COP e podem destacar temas que não foram totalmente resolvidos nas negociações formais. Na prática, são usadas quando a presidência quer dar um rumo geral à conferência, reforçar prioridades ou registrar compromissos que não cabem nas decisões técnicas. Por isso mesmo, são textos mais políticos do que operacionais, e acabam criando debate. Países como o Brasil costumam questionar a legitimidade desse instrumento, já que ele não passa pelo mesmo processo rígido de negociação linha a linha que rege o restante da COP. Outro motivo de polêmica é o consenso: toda decisão da COP precisa ser adotada sem objeções formais, mas cabe à presidência interpretar se esse consenso existe. Em conferências recentes, textos foram aprovados mesmo diante de discordâncias explícitas, o que aumentou a desconfiança sobre o uso das decisões de capa. Veja exemplos importantes de outras COPs: COP26 (Glasgow): pela primeira vez, mencionou carvão e subsídios fósseis. COP28 (Dubai): trouxe a frase histórica sobre a “transição para longe dos combustíveis fósseis”, assinada por 198 países. COP25 (Madri) e COP27 (Egito): entregaram decisões fracas e muito criticadas. Em resumo: decisões de capa podem elevar a ambição da conferência, como Glasgow e Dubai, ou frustrar expectativas, como Madri e Sharm. Em Belém, o Brasil diz que prefere não usar esse instrumento, mas a pressão por um recado claro sobre combustíveis fósseis, desmatamento e financiamento está mantendo o assunto no centro das conversas. 4 - Pergunta do dia: o que falta para um acordo - e quando isso acontece? A COP30 começa essa sua segunda semana com uma peça importante já na mesa: o documento que resume as consultas sobre os quatro temas que ficaram pendentes no início da conferência: financiamento climático (quem paga a conta da crise), comércio internacional (como regras de mercado afetam o clima), lacuna de ambição (o quanto as metas atuais ainda são insuficientes) e relatórios de implementação (como cada país mostra o que fez ou não fez). Esse material saiu no fim do domingo e agora serve de base para tudo que começa nesta segunda-feira. O desafio daqui em diante é se o Brasil vai aproveitar esses dois pilares, financiamento e ambição, para conduzir um resultado robusto, ou permitir que o processo caia no denominador comum mais baixo. Igualmente crítico é saber se a Europa e outros países desenvolvidos vão aumentar sua ambição em financiamento climático para viabilizar um acordo. Como funcionam as negociações na COP E a partir de hoje, entram em cena as discussões mais políticas. Com a chegada de diversos ministros, começa a etapa em que os países precisam decidir o que estão dispostos a ceder para que a conferência avance. É também o início das falas de alto nível, quando essas autoridades fazem discursos públicos e deixam claro qual é a prioridade de cada governo. Quer mandar uma pergunta pro TERMÔMETRO? Envie pelo VC no g1 ou nos comentários desta reportagem O grande teste da semana é ver se esses quatro temas conseguem caminhar juntos. A ideia de empacotar tudo numa decisão única ainda está circulando, mas depende de algo que, até agora, não apareceu com clareza: consenso sobre financiamento. Sem isso, metas não andam; e sem metas, comércio e transparência ficam parados. Em outras palavras: esta é a semana em que a COP30 decide se consegue transformar aquele diagnóstico técnico do domingo em acordos reais e se sai de Belém com um conjunto de decisões capaz de ser apresentado como avanço, não apenas como mais uma lista de impasses. 5 - Fóssil do Dia Ativistas entregam o “Fóssil do Dia” à Indonésia durante cerimônia satírica na COP30, em Belém. Climate Action Network O Fóssil do Dia do sábado foi para a Indonésia. O motivo: o país levou para a delegação um dos maiores grupos de lobistas de combustíveis fósseis entre os países em desenvolvimento e, segundo organizações da sociedade civil, chegou a repetir quase palavra por palavra, em uma fala oficial, os argumentos desses grupos nas negociações do Artigo 6.4, que trata das regras do mercado de carbono da ONU. O que é e como funciona o mercado de carbono? Entenda aqui Na prática, a crítica é simples: em vez de defender regras mais rígidas para garantir que os créditos de carbono tenham qualidade e não sirvam para adiar cortes de emissões, a Indonésia adotou posições vistas pelos ativistas como permissivas demais. Esse prêmio também reflete o clima da COP30. Um levantamento divulgado por organizações mostrou que mais de 1,6 mil pessoas ligadas à indústria fóssil estão credenciadas na conferência, um número que ultrapassa delegações inteiras de países vulneráveis. 🦖 O "Fóssil do dia" é um "prêmio" simbólico e irônico, concedido uma vez por dia durante as conferências climáticas da ONU. 6 - Você precisa assistir Povos indígenas vão a COP para combater crise climática: 'queremos decidir juntos' A nossa Paula Paiva Paulo esteve na Aldeia COP, na UFPA, e encontrou um espaço que virou um outro centro da conferência. Mais de 3 mil indígenas, de várias regiões do Brasil e também de fora, estão reunidos ali enquanto a COP30 acontece. A PPP conta que, quando você chega ao local, a diversidade salta aos olhos: é quase um resumo do país, que tem 391 povos e 295 línguas, segundo o IBGE. A Paula conversou com vários deles para entender o que esperam da COP. E um ponto apareceu em quase todas as falas: o clima já está mexendo com o básico, como o plantio. Chuva que não avisa, calor fora de época, produção perdida. Não é uma discussão distante, é o cotidiano de muita gente. E, claro, surgem temas que estão há anos na pauta indígena: demarcação, homologação e participação direta nas decisões. Um dos líderes resumiu bem dizendo que não basta deixar tudo na mão dos chefes de Estado, eles querem estar na mesa onde as escolhas são feitas. O vídeo da Paula mostra esse movimento de perto e ajuda a entender uma parte da COP que não aparece nos pavilhões, mas que está muito presente em Belém. 7 - Além da imagem Marcha Global por Justiça Climática reuniu movimentos sociais de diversos países em Belém. AP/Andre Penner MAIS DO QUE UMA FOTO: A Marcha Global por Justiça Climática levou milhares de pessoas às ruas de Belém no último sábado, e esses três caixões (com os nomes carvão, petróleo e gás) resumem o tom do protesto. Foi a imagem que abriu a caminhada, marcada pela presença de grupos culturais, povos tradicionais e movimentos sociais de vários países. A marcha não passou pela Zona Azul, mas as telas da conferência transmitiram tudo, e muitos delegados pararam para acompanhar. E a ideia dos organizadores era justamente essa: mostrar que, fora das salas de negociação, há uma pressão crescente por respostas mais rápidas e claras. Saiba mais aqui como foi a Marcha Global por Justiça Climática Amanhã, acompanhe mais um TERMÔMETRO DA COP30. Até lá! LEIA TAMBÉM: Preços de hospedagem caem quase 50% em Belém às vésperas da COP 30, aponta Airbnb Cúpula de Belém surpreende ao trazer de volta o petróleo para o foco das negociações da COP Tornado, ciclone, furacão: entenda as diferenças entre os fenômenos meteorológicos

FONTE: https://g1.globo.com/meio-ambiente/cop-30/noticia/2025/11/17/termometro-da-cop30-dia-8-a-semana-decisiva-em-belem-a-ausencia-que-chamou-atencao-e-as-decisoes-de-capa.ghtml


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