Prefeitura de SP não tem plano para lidar com apagões após eventos climáticos extremos, aponta relatório
12/12/2025
(Foto: Reprodução) Prefeitura de SP não tem plano para lidar com apagões após eventos climáticos extremos, aponta relatório
A cidade de São Paulo enfrenta o terceiro dia seguido de apagão após o vendaval da última quarta-feira (10), que registrou ventos de 96,3 km/h e deixou dois milhões de imóveis sem luz. Apesar de o prefeito Ricardo Nunes (MDB) defender a substituição da Enel por entender que a empresa não dá conta do serviço, a própria administração municipal não tem um plano específico para lidar com blecautes provocados por eventos extremos.
Segundo o PlanClima, o Plano de Ação Climática da capital, criado em 2021 e atualizado anualmente, não há nenhuma diretriz que trate de como a cidade deve responder a apagões após temporais, vendavais ou ondas de calor.
O documento estabelece metas até 2050 e menciona ações como aprimorar alertas de tempestades e rever protocolos de mobilidade, mas não aborda os impactos na infraestrutura de distribuição de energia.
A falha em prever estratégias para blecautes contrasta com o que foi debatido globalmente na COP30, realizada no mês passado em Belém (PA). Entre 194 países, “adaptação climática” foi um dos temas centrais: cidades do mundo inteiro precisam se preparar para minimizar danos causados por eventos extremos como ventos intensos, secas e chuvas volumosas.
Queda de árvores deixou várias regiões de SP sem energia
Felipe Rau/Estadão Conteúdo
No caso de São Paulo, porém, o relatório mais recente da Secretaria-Executiva de Mudanças Climáticas (Seclima) lista 11 ações em andamento na categoria “adaptar a cidade de hoje para o amanhã” — nenhuma delas ligada à proteção ou modernização da rede elétrica.
À TV Globo, o secretário executivo de mudanças climáticas de São Paulo, José Renato Nalini, reconheceu que o tema deveria estar no PlanClima.
"Há um projeto, é intenção da prefeitura é insistir nisso, porque é uma questão de segurança. Os cientistas nos alertaram durante décadas e nós não prestamos atenção. Agora quem tem a palavra é a natureza, e ela está muito ressentida."
Apagões se repetem
Na quarta, a cidade de São Paulo enfrentou uma ventania considerada inédita pelos meteorologistas: é a primeira vez que rajadas tão fortes atingem a capital sem a presença de chuva ou temporais. O vento começou ainda pela manhã e seguiu intenso até a noite, algo que também chamou a atenção do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
Os ventos fortes deixaram um rastro de destruição na capital e região metropolitana de São Paulo: mais de 2 milhões de imóveis sem luz, queda de 151 árvores, fechamento de parques, voos cancelados e até consultas em hospital precisaram ser canceladas.
Mas não é a primeira vez que a capital fica longos períodos sem luz após eventos climáticos extremos. Em outubro do ano passado, algumas regiões chegaram a ficar cinco dias sem energia depois de um temporal.
Dados do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP (IAG/USP) mostram que chuvas acima de 100 milímetros se tornaram mais frequentes nas últimas duas décadas. Entre 2001 e 2020, foram 11 episódios, contra 10 registrados entre 1941 e 2000 — um aumento significativo apesar do período anterior ter seis décadas de registros.
O climatologista Carlos Nobre explica que os temporais extremos têm relação direta com o aquecimento global. Para reduzir riscos no longo prazo, ele defende uma grande restauração florestal, capaz de diminuir temperaturas e atenuar tempestades e rajadas de vento.
"Quando isso acontecer vamos abaixar as temperaturas máximas e esses eventos irão diminuir."
A Seclima afirmou que o PlanClima está em fase de revisão e que, apesar de ser muito caro enterrar os fios, discute como melhorar a residência a infraestrutura de distribuição de energia da cidade.