Múmias 'defumadas' de 12 mil anos são evidências mais antigas de mumificação humana

  • 18/09/2025
(Foto: Reprodução)
Exemplos de múmias "defumadas" mantidas em residências particulares em Papua, Indonésia, fotografadas em janeiro de 2019. (A) Uma múmia hiperflexionada de Dani; (B) Uma múmia flexionada da Vila Pumo. Ambos os locais ficam em Wamena, Regência de Jayawijaya, Papua. Divulgação/PNAS A mumificação por secagem com fumaça de restos humanos era praticada por caçadores-coletores no sul da China, sudeste da Ásia e além há 12 mil anos, relatamos meus colegas e eu em um estudo publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS). Esta é a evidência mais antiga conhecida de mumificação em todo o mundo, muito mais antiga do que os exemplos mais conhecidos do Antigo Egito e da América do Sul. Estudamos restos mortais de sítios arqueológicos datados entre 12 mil e 4 mil anos atrás, mas a prática nunca desapareceu completamente. Ela persistiu até os tempos modernos em partes das terras altas da Nova Guiné e da Austrália. Enterros de caçadores-coletores No sul da China e no Sudeste Asiático, os enterros em posição agachada ou encolhida são uma marca registrada dos caçadores-coletores que habitaram a região entre aproximadamente 20 mil e 4 mil anos atrás. Arqueólogos que trabalham na região há muito tempo classificaram esses túmulos como “enterros primários” diretos. Isso significa que o corpo foi sepultado intacto em uma única cerimônia. Mas nosso colega Hirofumi Matsumura, um experiente antropólogo físico e anatomista, percebeu que alguns esqueletos estavam dispostos de maneiras que desafiavam o senso anatômico. Além dessa observação, frequentemente vimos que alguns ossos desses corpos estavam parcialmente queimados. Os sinais de queimadura, como carbonização, eram visíveis principalmente nos pontos do corpo com menos massa muscular e cobertura de tecido mole mais fina. Começamos a nos perguntar se talvez os falecidos tivessem sido submetidos a um processo mais complicado do que um simples enterro. Uma conversa informal no campo Um ponto de virada ocorreu em setembro de 2017, durante uma breve pausa em nossa escavação no sítio Bau Du, no centro do Vietnã. O falecido Kim Dung Nguyen destacou as dificuldades de interpretar a situação em que os esqueletos foram encontrados, provavelmente posicionados intencionalmente sentados contra grandes rochas. Matsumura observou problemas com a posição dos ossos. Lembro de ter dito, meio brincando, mas genuinamente curioso: “Será que esses enterros são semelhantes às múmias defumadas da Papua Nova Guiné?”. Matsumura pensou seriamente sobre essa ideia. Graças ao generoso apoio e cooperação de muitos colegas, aquele momento marcou o verdadeiro início de nossa pesquisa sobre esse mistério. Identificando antigas múmias defumadas Com nossa nova curiosidade, começamos a examinar fotografias de práticas modernas de mumificação por defumação nas terras altas da Nova Guiné em livros e na internet. Em janeiro de 2019, fomos a Wamena, em Papua (Indonésia), para observar várias múmias defumadas modernas mantidas em residências particulares. A semelhança com nossos restos mortais antigos era impressionante. Mas a maioria dos esqueletos em nossa escavação não apresentava sinais externos óbvios de queimadura. Percebemos que precisávamos de um teste científico para provar nossa hipótese. Se um corpo fosse defumado por fogo de baixa temperatura – enquanto ainda protegido pela pele, músculos e tecidos –, os ossos não ficariam visivelmente enegrecidos. Mas ainda poderiam reter sinais sutis ou traços microscópicos de queimadura ou defumação passadas. Então veio a pandemia da COVID-19, que levou a restrições de viagem, impedindo-nos de viajar para qualquer lugar. Meus colegas e eu estávamos espalhados por diferentes regiões, mas buscamos várias maneiras de continuar o projeto. Por fim, testamos ossos de 54 sepultamentos em 11 locais usando duas técnicas laboratoriais independentes chamadas difração de raios X e espectroscopia de infravermelho por transformada de Fourier (FTIR, na sigla em inglês). Esses métodos podem detectar alterações microscópicas na estrutura do material ósseo causadas por altas temperaturas. Os resultados confirmaram que os restos mortais haviam sido expostos a aquecimento em baixa temperatura. Em outras palavras, quase todos eles haviam sido defumados. Mais de 10 mil anos de rituais As amostras, descobertas no sul da China, Vietnã e Indonésia, representam os exemplos mais antigos conhecidos de mumificação. Elas são muito mais antigas do que as práticas bem conhecidas da cultura Chinchorro, no norte do Chile (há cerca de 7 mil anos), e até mesmo do Antigo Império Egípcio (há cerca de 4.500 anos). Notavelmente, essa prática funerária era comum em toda a Ásia Oriental e provavelmente também no Japão. Ela pode remontar a mais de 20 mil anos no Sudeste Asiático. A prática continuou até cerca de 4 mil anos atrás, quando novos modos de vida começaram a se estabelecer. Nossa pesquisa revela uma mistura única de técnica, tradição e crença. Essa prática cultural perdurou por milhares de anos e se espalhou por uma região muito ampla. União visível de tempo e memória Registros etnográficos mostram que essa tradição sobreviveu no sul da Austrália até o final do século XIX e início do século XX. Nas terras altas da Nova Guiné, algumas comunidades mantiveram a prática viva até tempos recentes. Significativamente, os grupos de caçadores-coletores do sul da China e do Sudeste Asiático estavam intimamente ligados aos povos indígenas da Nova Guiné e da Austrália, tanto em alguns atributos físicos quanto em sua ascendência genética. Tanto no sul da Austrália quanto em Papua-Nova Guiné, registros etnográficos mostram que a preparação de uma única múmia defumada podia levar até três meses de cuidados contínuos. Tal devoção extraordinária só é possível por meio de um amor profundo e uma crença espiritual poderosa. Essa tradição ecoa uma verdade tão antiga quanto a própria Humanidade: o desejo atemporal de que as famílias e os entes queridos permaneçam unidos para sempre — transmitido através dos tempos, independentemente da forma que essa união possa assumir. Múmia pré-inca de mil anos é encontrada em escavação de gasoduto no Peru Hsiao-chun Hung recebe financiamento do Australian Research Council (DP140100384, DP190101839).

FONTE: https://g1.globo.com/ciencia/noticia/2025/09/18/mumias-defumadas-de-12-mil-anos-sao-evidencias-mais-antigas-de-mumificacao-humana.ghtml


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