Disfarçada com peruca, medo de morrer e viagem de barco com ajuda dos EUA: a perigosa fuga de Corina Machado da Venezuela
12/12/2025
(Foto: Reprodução) Já em Oslo, Maria Corina Machado confirma que saiu da Venezuela com ajuda americana
María Corina Machado fez uma cinematográfica e meticulosamente planejada fuga da Venezuela nesta semana, que incluiu um disfarce, ajuda de diversas pessoas e dos EUA e uma "assustadora" travessia marítima na calada da noite.
Detalhes da fuga da opositora de Nicolás Maduro para ir à Noruega receber o prêmio Nobel da Paz foram reveladas pelos jornais americanos "The Wall Street Journal" (WSJ) e "CBS News", que entrevistaram pessoas com conhecimento na operação e até mesmo envolvidas na empreitada.
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A fuga durou um total de 15 horas e foi extremamente perigosa e complexa, segundo Bryan Stern, veterano das Forças Especiais dos EUA e chefe de uma organização americana de resgate sem fins lucrativos, que executou a operação. Como Corina Machado vivia escondida desde agosto de 2024 por desafiar Maduro nas eleições presidenciais, a fuga envolveu diversos elementos que parecem ter saído de um filme:
Ela usou um disfarce com peruca, boné e um casaco grande;
Passou por 10 postos militares do Exército chavista entre seu esconderijo e o porto de pescadores;
Viajou até Curaçao a bordo de um barco de pesca pequeno e antigo e em meio a grandes ondas no mar do Caribe;
Avisou ao Exército dos EUA que faria a viagem pelo mar para não ser bombardeada;
Exército americano ajudou equipe privada a localizar barco de Corina Machado após o GPS da embarcação da opositora cair na água.
"Em alguns momentos, senti que havia um risco real para a minha vida, mas também foi um momento muito espiritual porque, no fim, simplesmente senti que estava nas mãos de Deus", disse Corina Machado em coletiva de imprensa em Oslo.
Foto de arquivo: Maria Corina Machado, líder da oposição na Venezuela, discursa para apoiadores em protesto contra posse de Maduro para um terceiro mandato, em Caracas, em 9 de janeiro de 2025.
Reuters/Leonardo Fernandez Viloria/Foto de arquivo
Segundo o "WSJ", Corina Machado utilizou um disfarce com peruca, boné e um casaco grande para não ser detectada por agentes de Maduro nos 10 postos militares entre seu esconderijo e um pacato porto de pescadores na costa venezuelana, por onde faria a fuga marítima. Segundo a opositora, o regime venezuelano "faria todo o possível" para impedir sua viagem.
A viagem de Machado para Oslo teve componentes terrestre, marítimo e aéreo e durou quase três dias no total, segundo o "WSJ": ela viajou por terra de um subúrbio de Caracas até uma vila de pescadores, depois de barco Curaçao, uma ilha no Caribe a cerca de 80 km da costa venezuelana. Depois, ela embarcou em um jatinho vindo de Miami que a levou a Oslo, com uma parada no estado de Maine, nos EUA.
"Foi muito perigoso. Deu medo", disse Stern à "CBS News". O diretor da operação lembrou que foi necessário enfrentar a escuridão e do mar agitado para deixar o país. Stern disse ter se encontrado com Corina Machado no mar no escuro e encharcada.
"As condições do mar eram ideais para nós", porque as ondas altas interferem nos radares. "Mas, claro, não eram condições desejáveis para navegar", explicou Stern. "Era noite fechada, havia pouca luz da Lua, alguma nebulosidade, pouca visibilidade, as lanchas não tinham luzes", descreveu.
"Todos estávamos bem molhados. Meu time e eu estávamos encharcados até os ossos. Ela também, estava com frio e muito molhada. Teve uma viagem muito dura. Estava muito feliz. Estava muito emocionada. Estava muito cansada", acrescentou o veterano.
Stern afirmou que cerca de 20 pessoas participaram da operação marítima e que o governo dos EUA não esteve envolvido no financiamento da empreitada, que veio de doadores privados. No entanto, autoridades americanas da Casa Branca até oficiais militares de alto escalão e diplomatas acompanharam a viagem em tempo real por meio de mensagens de WhatsApp, segundo o "WSJ".
Corina Machado e Stern confirmaram que durante a fuga foi necessário coordenar com o Exército dos EUA para que seu barco não fosse bombardeado —como vem ocorrendo com embarcações que o governo Trump acusa transportar drogas. Inclusive, dois jatos F-18 dos EUA sobrevoaram o Golfo da Venezuela por volta do mesmo horário em que Corina Machado fazia a travessia.
A perigosa viagem, no entanto, teve problemas. Nas últimas três horas de viagem marítima, Machado e sua pequena tripulação flutuaram à deriva no mar após seu GPS caiu no mar e um equipamento reserva falhou. Ela não encontrou a equipe de extração no ponto de encontro designado, desencadeando uma corrida para localizá-la nas águas perigosas.
Nesse momento, Stern pediu ajuda para o Exército americano para localizar Corina Machado. Quando a encontrou, o chefe da operação a colocou a bordo de um barco maior e lhe deu lanches, bebida isotônica e um casaco seco.
A opositora afirmou que pretende voltar à Venezuela, sem esclarecer como ou quando. Stern disse que seu grupo não participará desse retorno, pois realiza apenas operações para extrair pessoas de países, não para levá-las de volta.
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