Calor extremo e chuvas irregulares: combinação se repete com cada vez mais força e frequência
30/12/2025
(Foto: Reprodução) Calor extremo e chuvas irregulares expõem avanço das mudanças climáticas
Calor extremo e chuvas irregulares são sinais das mudanças climáticas. Uma combinação que se repete com cada vez mais força e frequência.
Quem se arrisca debaixo do sol? Nem as delícias do verão aliviam o calor.
"Está difícil, está complicado. O clima seco, fica ruim para respirar... Até a água da torneira está saindo quente", diz a comerciante Josiane Silva.
Estamos sentindo os efeitos do que os cientistas alertavam há anos. Em 2015, o Acordo de Paris propôs medidas como a redução do desmatamento e do uso de combustíveis fósseis para impedir que a temperatura global subisse mais de 1,5ºC acima da média pré-industrial. Mas não conseguimos. Ela continuou subindo ano a ano e, desde 2023, está no limite da meta. Até ultrapassou em 2024.
O pesquisador Carlos Nobre, referência no estudo de efeitos do aquecimento do planeta, afirma que esse calor extremo é resultado das mudanças climáticas:
"Um fenômeno que poderia acontecer lá atrás, no passado, de forma muito rara, agora acontece com muito mais frequência e também batendo recordes. Nós nunca tivemos esse tipo de temperatura”, afirma Carlos Nobre, copresidente do Painel Científico para Amazônia.
Junto com a temperatura, muda também o regime de chuvas. Isso ocorre porque, quando os raios solares aquecem a Terra, o planeta tenta repelir o calor para fora da atmosfera. Mas o gás carbônico funciona como uma barreira, uma estufa, não deixa o calor sair. E essa pressão afeta o clima no mundo inteiro.
O professor do Instituto de Astrofísica e Geoquímica da USP Micael Cecchini explica que essas condições intensificam o surgimento de fenômenos extremos:
"Se você tem mais calor, você tem mais energia, pode vim o que é chamado de ciclones bomba, por exemplo, que é um ciclone muito intenso, uma chuva muito intensa. E, como consequência, a gente pode ter também uma seca muito, muito intensa".
Segundo os cientistas, se até 2050 a temperatura média do planeta subir mais 1ºC, mais da metade da floresta amazônica não vai resistir. O resultado será mais gás carbônico na atmosfera e um efeito estufa em níveis que eles consideram irreversíveis.
"Nós vamos perder a Amazônia. A Amazônia está na beira do ponto de retorno, o Cerrado também, a Caatinga e o Pantanal. Se nós continuarmos com desmatamento e aquecimento global até 2050, a gente passa do ponto de retorno desses biomas e até 2100 nós vamos perder a maioria desses biomas”, afirma Carlos Nobre.
Calor extremo e chuvas irregulares: combinação se repete com cada vez mais força e frequência
Jornal Nacional/ Reprodução
O desmatamento da Mata Atlântica, por exemplo, já contribui para o calor extremo no Sudeste. Carlos Nobre diz que essas mudanças climáticas afetam não só a saúde e a economia das cidades, mas também a produção agrícola. Os cientistas reforçam a importância de se pensar em soluções que possam ser colocadas em prática o mais rapidamente possível.
"Nós teríamos que zerar as emissões globalmente até 2040, não mais que 2045. Também fazer vários processos para remover o gás carbônico da atmosfera, com a restauração florestal”, diz Carlos Nobre.
"O desafio vai ser esse: vai ser como que a gente vai conseguir continuar vivendo da forma que a gente está vivendo, sendo que o planeta está mudando. Então, alguma coisa vai ter que mudar. Isso nunca é simples", afirma Micael Cecchini.
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