Acampamento para meninas e comunidade LGBTQIAPN+ forma musicistas de rock em Sorocaba: 'Espaço onde podem ser quem são'
24/10/2025
(Foto: Reprodução) Acampamento para meninas e comunidade LGBTQIAPN+ forma musicistas de rock em Sorocaba
🎸🤘Assim como no filme "Camp Rock", um local afastado do ambiente urbano pode ser perfeito para fazer música e expressar seus sentimentos. Cantar, dançar e tocar instrumentos enquanto se faz novas amizades ao ar livre é a premissa do "Girls Rock Camp Brasil", realizado em Sorocaba (SP) desde 2013.
A iniciativa, inspirada em Girls Rock Camps que acontecem nos Estados Unidos desde o início dos anos 2000, foi organizada pela socióloga, educadora, produtora cultural e guitarrista Flávia Biggs. A artista, que já fez parte da banda "The Biggs", também é de Sorocaba. Assista um vídeo das diferentes edições do acampamento no início da reportagem.
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Ao g1, Flávia contou que participou de edições do acampamento no exterior como produtora musical e instrutora de guitarra, em 2005, foi então que decidiu trazer esta oportunidade de empoderamento feminino no gênero rock para o Brasil.
"A ideia sempre foi promover o empoderamento de meninas e pessoas dissidentes de gênero por meio da música e da coletividade. Me apaixonei pelo projeto e, junto de uma equipe de voluntariado maravilhosa, trouxe o projeto para o Brasil. Queríamos criar um espaço seguro e acolhedor onde meninas pudessem se expressar, fazer amizades, descobrir seus talentos e perceber que podem ocupar qualquer lugar — inclusive o palco", destacou.
Depois da estreia em 2013, o camp cresceu e se tornou referência na América Latina, segundo Flávia. A experiência promove a iniciação musical, o fortalecimento da autoestima de meninas e jovens mulheres, sendo reconhecido pelo Fundo das Nações Unidas (Unicef) como uma boa prática para o empoderamento feminino no Brasil.
Guitarrista Flávia Biggs, de Sorocaba (SP), durante apresentação com sua banda 'The Biggs'
jmag.julia/Reprodução
🎼 Acampamento durante férias escolares 🥁
O camp acontece em uma semana das férias escolares, para jovens de sete a 17 anos. Durante os dias de atividade, os participantes aprendem a tocar um instrumento escolhido durante a inscrição como guitarra, baixo, bateria, teclado ou até mesmo voz.
O próximo passo do acampamento é a formação de bandas, que devem compor uma música autoral e se apresentar em um show que será aberto ao público.
"Tudo isso em um ambiente cheio de apoio, criatividade e diversão, como oficinas temáticas de composição musical, palco, performance entre outras. Além dessa edição principal do [camp], também realizamos versões especiais e atividades ao longo do ano como oficinas, rodas de conversa e workshops, sempre com o mesmo propósito de promover o protagonismo feminino e LGBTQIAPN+ na música", explicou Flávia.
Meninas formam bandas e aprendem a se apresentar juntas no acampamento de rock de Sorocaba (SP)
Flávia Biggs/Arquivo pessoal
As meninas têm a oportunidade de aprender a tocar instrumentos e desenvolver noções de ritmo durante os dias de acampamento, além de entender técnicas de composição, ensaio em grupo e performance nos palcos.
A diretora do projeto também destaca que, para ir além da música, o público pode vivenciar um processo de construção de confiança, colaboração, respeito e empatia, promovendo e debatendo sobre liberdade de expressão, autoestima, diversidade e igualdade de gênero.
Para Flávia, o foco do camp está no processo e nas experiências compartilhadas pelas meninas, pois em cada edição, elas vão "descobrindo suas vozes". Desde sua fundação, o Girls Rock Camp já reuniu mais de mil pessoas, adolescentes e voluntários de diferentes regiões do Brasil.
"É transformador porque oferece algo que, infelizmente, ainda é raro: um espaço onde meninas e pessoas de gêneros diversos podem ser quem são, sem medo de julgamento. Através da música, elas experimentam o poder da criação, da escuta, da criatividade e da coletividade. Muitas ex-campistas hoje seguem carreiras na música, nas artes ou em outras áreas, mas todas carregam o aprendizado de que suas vozes importam — e que juntas, podemos transformar o mundo", destaca.
Girls Rock Camp acontece durante férias escolares em Sorocaba (SP)
Flávia Biggs/Arquivo pessoal
🎹 Campistas Luna e Maia 🎸
Uma tecladista e uma guitarrista da capital paulista começaram a participar do projeto em 2019 e tornaram o acampamento uma tradição. Luna e Maia Assef, de 13 e 15 anos, são irmãs e, segundo a mãe delas, Cláudia Assef, o projeto se tornou um evento importante para as meninas, principalmente para se inspirarem e voltarem para casa mais felizes e empoderadas.
"Tem sido muito transformador para elas (camp). Elas saem de lá muito empoderadas, muito felizes, com novas amizades, todo ano elas fazem novas amizades e reencontram meninas que elas conheceram no ano anterior. Se soltam completamente, é um lugar de muita liberdade, de muito amor, de muita autoconfiança", disse a mãe.
Irmãs Luna e Maia Assef participam anualmente do Girls Rock Camp em Sorocaba (SP)
Arquivo pessoal
Cláudia ainda contou ao g1 que precisa alugar e ficar em hospedagens enquanto as meninas participam do acampamento, mas que apesar disso, a experiência vale a pena. Ela destaca que as aulas são monitoradas e acompanhadas por diversas profissionais voluntárias, o que torna o espaço seguro para as participantes, com mulheres apaixonadas pela música e pelo protagonismo feminino.
"É uma troca muito rica e eu recomendo para qualquer mãe, pai, tio, padrinho que possa dar de presente para sua filha, para sua criança, com certeza a aula vai ser uma experiência muito enriquecedora para elas. Já vi casos de, inclusive filha de amigo meu, que chegou muito tímida, com problemas de introspecção, ela foi perdendo essa timidez e, no sábado, que é o dia final da apresentação, ela estava lá, 'surrando' a bateria, feliz da vida e abraçando as companheiras, enfim, é realmente um lugar de muita transformação, de muita inspiração, de muita segurança, de muito poder", lembrou Cláudia.
A campista Maia também contou ao g1 que fez amizades para a vida toda durante os anos que participou do projeto.
"A gente conhece muita gente diferente. Acho que o camp é um lugar muito diverso, com muita coisa que a gente nem sabia que existia até a gente encontrar lá. Então, eu acho que é por isso que eu gosto muito do acampamento, ele aproxima muito a gente de coisas que estão fora da nossa realidade ou coisas que a gente não conhecia" disse Maia.
Mais Assef é guitarrista e aprendeu a tocar o isntrumeno no acampamento de Sorocaba (SP)
Arquivo pessoal
🎤 Inscrições abertas para 2026 🎶
Apesar de ter alguns patrocinadores locais, o projeto costuma acontecer com inscrições pagas, oferecendo bolsas para estudantes da rede pública. No entanto, a edição de 2026 será totalmente gratuita, com apoio do governo federal, pela primeira vez.
A edição de janeiro, além do acesso gratuito a todas as atividades, também vai oferecer alimentação completa às campistas com café da manhã, almoço e lanche da tarde.
As inscrições podem ser feitas por meio de um formulário online até dia 25 de outubro, neste link. Devido à alta demanda, as inscrições passarão por uma seleção que vai priorizar crianças e adolescentes negras, pretas ou pardas; indígenas; pessoas com deficiência; estudantes de escolas públicas ou inscritas em programas sociais do governo.
O endereço completo do acampamento é informado às jovens que forem selecionadas. A carga horária do projeto é de 64 horas, distribuídas em 8 horas diárias no período diurno, das 8h às 17h, sem pernoite. Portanto os responsáveis precisam deixar e buscar as crianças todos os dias.
Projeto de 2026 será totalmente gratuito, com apoio do governo federal, pela primeira vez, em Sorocaba (SP)
Girls Rock Camp Brasil/Reprodução
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